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Serenata da Sebenta - Cândido Pedro de Viterbo

Serenata da Sebenta

Suite de Fados (~1899/900)

pelo académico Cândido Pedro de Viterbo (Porto, Valongo, 16 de Novembro de 1871 - 1946)


À minha professora actriz cantora D. Elvira Brambilla
Ao meu Professor de música na Universidade Dr. Simões Barbas

FADO N.º 1  Do penedo da Meditação
FADO N.º 2  Serenatella do Auto da Sebenta
FADO N.º 3  Da Quinta das Lágrimas
FADO N.º 4  Do Penedo da Saudade
FADO N.º 5  Da Lapa dos Poetas
FADO N.º 6  Da fonte da Sereia



Quadras da geração poética Coimbrã

Augusto Gil, Afonso Lopes Vieira,  Gomes Lopes, António Macieira, Fausto Guedes Teixeira, Teixeira de Paschoaes, Severo Portela, Humberto de Bettencourt, Pereira Barata, Marques dos Santos, Alberto Pinheiro, Mário Esteves,  Dom Thomaz de Noronha.


Guitarras subi, subi...
Tão alto cantarei eu
Que me viçam pedir por ti
Os anjos que estão no céo...

Teus olhos contas escuras,
São duas ave-marias
D'um rosario d'amarguras
Que eu reso todos os dias.

Se queres que eu te não queira
Pede a Deus p'ra que me chame;
Pois nem Deus d'outra maneira
Consegue que to não ame.

Amas a Nosso Senhor
Que morreu por toda a gente,
E a mim não me tens amor
Que morro por ti sómente!

Canta mais devagarinho
Viterbo, ao seu postigo.
Não sei porquê, adivinho
Que está sonhando commigo...

O tempo corre de leve
E fogem leves as penas
Tendo as tuas mãos de neve
Entre as minhas mãos morenas.

Donzellinhas tomae tento,
Meninas não vos fieis.
Cantigas leva-as o vento,
Cartas d'amor são papeis.

Olhos negros de veludo
Heis de fazer-me doutor.
Sois os meus livros d'estudo
Na faculdade do amor.

De certo os anjos do céo
Não têm asas de plumas,
Que os teus hombros vi-os eu,
Não havia lá nenhumas.

Dizes que é desigual
Este amor. Nunca o suppuz!
Mas olha: a sombra, afinal
É um effeito de luz.

         Augusto Gil.


Pouco tempo dura a rosa
Pouco dura o bem-me-quer.
Quem nasceu desfortunosa
Sem fortuna ha de viver.

Já quiz a quem me não quiz,
Amei quem me desamou:
E n'este pouco se diz
Tudo que um homem penou.

Adeus rio, choupos, serra,
Adeus tudo, tudo emfim!
Donzellinhas d'esta terra
Lembrae-vos por cá de mim.

Cantarei, na despedida,
P'ra onde me leva a sorte,
O fado da minha vida,
O fado da minha morte!

         Lopes Vieira.


Parece-me 'inda tão pouco
O amor que minha alma sente,
Que eu desejava sêr louco
Para te amar loucamente.

Eu sou um pobre estudante
Teus lindos olhos estudo...
Mil trechos d'amor-galante
Leio n'esse livro mudo.

         Gomes Lopes.


Deu-me quebranto nos olhos
Quando te estava a escrever;
Talvez fosse aviso santo
Para este amor esquecer.

Andam teus olhos perdidos
Dizes, de tanto chorar
Pois eu perdo os sentidos
De os andar a procurar.

        António Macieira.


Pedi ao céo as estrellas
a P'ra ver se me dava ou não,
Com aluz que existe n'ellas,
A altura a que ellas estão.

Deus que nos vê lá de cima,
Alma desta alma, querida,
Juntou-nos: somos a rima
Da linda quadra da vida.

        Guedes Teixeira.


Sepulturas de desejos
São teus labios ideaes,
Onde vão chorar os beijos
Mal empregados nas mais...

Amar ó ter um desejo
De sol pôr, de luz d'aurora...
Amar é parte do beijo
Que se não beija, mas chora,

       Teixeira de Paschoaes.

A trança que tu me deste
É negra como o carvão.
De lucto tu me vestiste
Dos olhos ao coração.

Á noitinha à tua porta
Meu coração foi parar,
Que lindas coisas, que lindas!
Tinha para te contar!

         Severo Portela.


Perdido todo o juizo,
Ia morrendo d'amores:
Pôde mais um teu sorriso
Que a sciencia dos doutores.

Por vezes em noite escura
Vejo uma aurora a brilhar;
Sonho n'um céo de ventura
A luz do teu lindo olhar.

     Humberto de Bettencourt.


Não tenho de ti reserva
Pelo mal em que me deixas
Por mais que se pise a herva
Nunca à herva se ouvem queixas.

Chegavas tu á janella
E a lua que era só meia
Mal olhaste para ella
Mudou-se na lua cheia.
        
         Pereira Barata.

Ó minha santa madrinha,
Isabel de Portugal;
Heis de me dar a mesinha
Que me livre do meu mal.

Dos olivaes de Santo António
Lá no alto idolatrado
Fazei com que as lindas moças
Ne tenham todas d'agrado.

          Marques dos Santos.

Ó Senhora da Bonança
A quem eu rezo a chorar,
OLhae pela minha amada
Que anda sobre as águas do mar.

Dos meus anneis o mais lindo
Vos darei quando voltar,
E em vossa capella branca
Com ella me irei casar.

          Alberto Pinheiro.

Senhora da minha vida
A trança deitae-a ao vento,
Que quanto mais desprendida
Mais me prende o pensamento.

Eu quero que os meus gemidos
Cantados ao violão
Vos entrem pelos ouvidos
Direitos ao coração.

           Mario Esteves.

Eu nada vejo no mundo
Mais lindo que o teu olhar,
Mais sereno e mais profundo
Que as fundas águas do mar.

Nos teus seios do luar.
Derrama-se o teu cabello,
Como uma aurora a brilhar
Sobre montanhas de gêlo.

     Dom Thomaz de Noronha.

 









Enviado por A. Granjo

A. Caetano, 16 de Novembro de 2024








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