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Barquinho ligeiro

 «Voga o barquinho ligeiro» - autor desconhecido.


Barquinho ligeiro by adamoc










Barquinho ligeiro

Voga o barquinho ligeiro

No Mondego cristalino

Seu rumor é mensageiro

D'um sorriso peregrino (bisa o dístico)

(estribilho)

Oh remador rema ligeiro

Pró teu barquinho ser o primeiro

E se tu fores o primeiro o vencedor

Eu te darei o meu amor.


Em «Barquinho Ligeiro» interpretado pelo Grupo Etnográfico da Região de Coimbra (GERC) na Serenata Futrica na Praça 8 de Maio, Coimbra, no dia 30 de Agosto 2014 (youtube) ouve-se uma outra quadra:

"Lindas águas do Mondego

Dos salgueiros a cantar

Quando as cheias de tristeza

Ninguém as pode passar."


Antero de Quental, nascido em S. Miguel, em 1842, estudou Direito na Universidade de Coimbra entre 1858/59 e 1863/64. Em 2001 a Colares Editora lançou «Primaveras românticas de Antero de Quental» «Volume que reúne a produção poética da juventude de Antero de Quental - daí o nome completo da obra ser primaveras Românticas. Versos dos Vinte Anos -, incluindo o poema Beatrice, publicado em Coimbra em 1863, e algumas poesias dispersas pela imprensa.» (fonte: Infopédia)

Em «Cantigas», A guitarra (1864, fonte primeira?), parte III, surgem estas quadras lúgubres:

Lindas águas do Mondego,

Por cima olivais do monte!

Quando as águas vão crescidas

Ninguém passa além da ponte!


Ó rio, rio da vida,

Quem te fora atravessar!

Vais tão cheio de tristezas...

Ninguém te pode passar!


Mas dize tu, ó Mondego,

Pois todos levam seu fado,

Tu que foges e eu que fico,

Qual de nós vai mais pesado?


Tu, ao som dos teus salgueiros,

Levas as tuas areias...

Eu, ao som dos meus desgostos,

Levo estas negras ideias...


Debaixo do arco grande,

Onde a água faz remanso,

Tem paz certa qualquer triste

Que ande à busca de descanso.


O luar bate no rio;

Tem um mágico fulgor...

Não há assim véu de noiva,

Nem há mortalha melhor!


Lindas areias do rio!

Uma trás d'outra a fugir,

Vão direitas dar ao mar...

Ah! quem pudera dormir!


Quem tiver amores tristes

E andar roto a mendigar,

Dá-lhe a água um brando leito

E há-de vesti-lo o luar!


À noite, o salgueiro é negro...

Com o vento meneando,

Parecem filas de frades,

Todos em coro rezando.


Ó frade, fecha o teu livro,

Vai caminho do teu fim...

Que eu já tenho quem me enterre,

Mais quem me reze latim!


Lindas águas do Mondego,

E os salgueiros a cantar!

Quando a cheia é de tristezas

Ninguém a pode passar!


É natural que esta canção nas suas repetições tivesse outras quadras para o canto solista, mas esta publicação de 1911 apenas tem «Voga o barquinho ligeiro». Quando terá sido introduzida a quadra de Antero de Quental? 

Nota de A. M. Nunes: «Esta quadra está gravada no CD «Olhar Coimbra», da Secção de Fado da AAC. A quadra será do Antero de Quental e quem a terá passado às «Mondeguinas» terá sido o Dr. António Ralha.»

A. Caetano, 19 de Novembro de 2023


Ver:

Barquinho ligeiro (1911) - blog Guitarra de Coimbra

Arquivo UC https://pesquisa.auc.uc.pt/details?id=132885

«Primaveras românticas - Antero de Quental»

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