Outra modinha a duo do mesmo autor [José dos Santos Maurício]
Modinha publicada no método Nova Arte de Viola de Manoel da Paixão Ribeiro (1789) (online na BNP).
Modinha para duas vozes (soprano) e acompanhamento de viola (apenas a linha de baixo).
Ver biografia de José dos Santos Maurício (Coimbra, 19 de Março de 1752 - Figueira-da-Foz, 12 de Setembro de 1815) na tese «O Stabat Mater de José Maurício: 1781» de Rui Paulo Simões (2004). (resenha biográfica página 10, pdf online).
Já que só estou dando ais
Já que só estou dando ais
Ao som de cruéis tormentos
Passarinhos que voais
Escutai meus sentimentos.
Vinde, vinde enternecidos
Assisti a meus lamentos.
Vinde, vinde enternecidos
Assisti a meus lamentos.
Ao som de cruéis tormentos
Passarinhos que voais
Escutai meus sentimentos.
Vinde, vinde enternecidos
Assisti a meus lamentos.
Vinde, vinde enternecidos
Assisti a meus lamentos.
Manoel da Paixão Ribeiro no seu método «Nova arte de Viola», impresso na Real Officina da Universidade de Coimbra em 1789, deixou boas informações sobre o uso da viola:
- tocado por muita gente («por não haver quasi pessoa alguma que se não jacte de a saber tocar...»)
- instrumento fácil de transportar por comparação com o cravo («comodidade de poder transportar-se a Viola para qualquer parte com pouco trabalho e despeza»)
- podia ser ponteado com cordas de tripa ou com trastos metálicos fixos («se pontêa de arame ou prata, e então não se attende à grossura das chapas, mas só a que ellas tenhão menos altura, que as antecedentes, descendo pelo braço; o que se consegue entranhando mais as chapas pelo dito braço da Viola. Os pontos de corda devem ser dobrados e os de chapa singelos.»)
- refere detalhes das cordas e do modo de temperar ou afinar:
Simeiras ou Baxos (lá) (5ª ordem - 3 cordas)
Contras ou requintas (re) (4ª ordem - 3 cordas)
Terceiras ou Toeiras (sol) (3ª ordem - 2 cordas)
Segundas (si) (2ª ordem - 2 cordas)
Primas (mi) (1ª ordem - 2 cordas)
- refere que o encordoamento da viola pode ser feito com cordas de tripa ou de arame (latão e aço).
- etc
Em relação ao encordoamento com arame diz o seguinte: «esta encordoadura he mais durável e se faz com menos despeza: além de evitar aos curiosos o hirem pessoalmente escolhe-la.».
Neste método ou tratado é referido um aspecto já sobejamente conhecido entre tocadores veteranos: o encordoamento metálico custa metade (120 vs 240...) do encordoamento de tripa, é mais durável e a natureza do material é mais homogénea não exigindo conhecimento (experiência prévia) por parte do tocador para eleger/escolher criteriosamente as melhores cordas de tripa - que por serem feitas de material orgânico, por processos artesanais e serem mais susceptíveis às condições de armazenamento, apresentam grande heterogeneidade, e isso reflecte-se indesejavelmente no som.
Em contrapartida as cordas metálicas «requerem grande modificação nos dedos para sacarem boas vozes, o que se não consegue logo que se entra a usar dellas; porém também não há duvida que costumando-se qualquer a ellas consegue isto, a Viola se não diferencia de um Cravo».
Neste contexto, Manoel da Paixão Ribeiro, homenageando o seu mestre conimbricense, republica no seu método duas modinhas de José dos Santos Maurício com uma linha de baixo para ser feita por viola, à "semelhança" sonora do cravo. As peças terão sido compostas originalmente para duas vozes soprano com acompanhamento de cravo e editadas tendo como público alvo as senhoras que teriam educação musical.
A. Caetano, 7 de Julho de 2023
Nota: este registo https://www.youtube.com/watch?v=jq1MyTUGU9o tem a autoria erradamente atribuída ao brasileiro José Maurício Nunes Garcia (1767 - 1830).
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